sábado, 24 de setembro de 2011


O que é "magia"?


"Magia" é uma palavra que vêm sido utilizada há muito tempo e de muitas formas para que possamos dar a ela um significado exato - nem quando ela começou a ser empregada havia um consenso sobre o que ela realmente queria dizer.


Sendo assim, para respondermos à pergunta do título, vale mais a pena listarmos os significados mais comuns para a palavra "magia" do que tentar encontrar um que seja mais verdadeiro que o outro.


A palavra "magia" pode ser usada para se referir a…


1 - Um conjunto de práticas destinado a alterar o rumo dos acontecimentos por meios (ferramentas e forças) sobrenaturais


2 - Uma qualidade que pode afetar pessoas, locais, hábitos ou objetos, dando-lhes a propriedade de alterar o rumo dos acontecimentos por meio do sobrenatural


3 - As ferramentas sobrenaturais utilizadas nas práticas mencionadas em "1"


4 - Uma força sobrenatural (ou um conjunto das mesmas) empregada no funcionamento de ferramentas sobrenaturais ou presente em pessoas, locais ou objetos capazes de alterar o rumo dos acontecimentos. Pode também ser alcançada ou ativada por meio de práticas rituais. Essa força, ou um conjunto das mesmas, pode resultar em efeitos colaterais variados.


5 - Os efeitos colaterais em si.


6 - Condição necessária para a existência de forças, qualidades ou efeitos sobrenaturais


7 - O ato de compactuar com manifestações (criaturas) sobrenaturais para garantir efeitos variados.


8 - A existência (fato) de manifestações sobrenaturais ou elas próprias


9 - A informação cedida pelas criaturas sobrenaturais ou desenvolvida a partir dessas para a prática de mudanças nos eventos.


10 - Um conjunto de rituais, orações e espetáculos folclóricos ou religiosos sem o menor efeito prático.


11 - O estudo e a prática de todas essas coisas.


Todas essas definições são diferentes umas das outras, mesmo que pareçam tão próximas ou sejam tão semelhantes entre si. O estudo da "magia", seja ela o que for, no entanto, exige que o estudioso tenha essas e outras definições em sua mente e saiba diferenciar todas elas e como lidar com cada uma.


Para isso, no entanto, o primeiro passo é renomear cada um dos conceitos.

domingo, 18 de setembro de 2011

A Capital Continental (2)

Os soldados do governo eram chamados, oficialmente, de Homens de Armas. A designação, em seu sentido original, era uma nomenclatura genérica para qualquer soldado de armadura, fosse cavaleiro ou não, mas com o tempo, passou a rotular apenas os soldados governamentais.

Eles nem pareciam com cavaleiros, totalmente. Os trajes de metal haviam sido substituídos por uniformes de guerra feitos de tecido magicamente modificado, mais leves que as placas metálicas e mais resistente do que o próprio aço. Apetrechos como elmos, ombreiras, cinturões e manoplas, no entanto, permaneceram em uso para designar status.

Oliver foi abordado por um soldado raso. Ele trajava roupas de tecido negro, botas de mesma cor, cinturão bege, luvas simples, ombreiras discretas e um capacete que na opinião de Oliver lembrava mais um penico. Tinha óculos semelhantes aos dos aviadores, que lhe escondiam os olhos e, em teoria, deveriam intimidar.

-Você é um fiel? -perguntou ele, por de trás do cachecol negro que lhe escondia o rosto.

Oliver poderia mentir, dizer belas palavras em nome de alguma divindade qualquer e as suspeitas sobre ele cairiam pela metade, mas não estava com a mínima vontade de fazê-lo.

-Pareço um fiel?

-Parece um soldado, se está perguntando a minha opinião.

Oliver poderia facilmente se passar por soldado. Estava vestido todo de preto, assim como a maioria dos agentes do governo. A escolha era proposital: caso ocorresse qualquer tumulto, poderia se disfarçar ou se destacar como bem entendesse, além das cores ajudarem a se disfarçar ao cair da noite. Seu único problema seria a ausência de qualquer parte de armadura ou, mais provavelmente, de uma insígnia oficial, que os soldados geralmente levam dentro das suas casacas.

-Ah, bem, não sou soldado. Dizem que as comemorações da Semana do Sol são lindas e venho apreciar a festa.

-Se pretende ficar a semana inteira, é necessário que se abrigue. Tem parentes na cidade, faz parte de alguma caravana, ou tem comprovante de contrato com alguma hospedaria?

-Pretendo ver apenas a primeira noite.

O soldado se afastou. Debaixo dos óculos e do cachecol, fez uma cara de desgosto. O primeiro dia das comemorações era geralmente o que mais dava problemas. Forasteiros apareciam e saíam na manhã seguinte, deixando a bagunça para quem se importava. Os outros fiéis costumavam ser mais pacatos ou, pelo menos, limpar qualquer bobagem que tivessem feito.

-...entre. -disse, com um certo receio. Já havia deixado passar muitos como ele, sem saber, e não estava com paciência para entrar em uma discussão improdutiva.

"Feito" pensou Oliver, passando sem impedimentos pela barreira de contenção.

-E lembre-se, nada de magia perigosa! - gritou o soldado, quando o rapaz já estava longe. -A cidade está protegida!



A Capital Continental

Vista de cima, a cidade parecia uma enorme coleção de igrejas, capelas e catedrais interligadas por pontes, pontilhadas de torres, repletas por plataformas e cheia de escadas.

As construções da periferia eram as que tinham aspectos menos religiosos. As casas pareciam mais com barracos ou moradias havaianas. As escadas eram de corda e madeira, assim como as pontes, e tudo tinha um pouco de musgo e plantas brotando em lugares inusitados.

Já em um nível intermediário, as casas eram feitas com tijolos vermelhos e marrons, ou pedras de granito escuro. Havia chaminés, mas elas raramente eram utilizadas: o inverno da capital era seco e incômodo, mas não frio a ponto de nevar. Pareciam castelos em miniatura e suas torres, mais numerosas, geralmente portavam bandeiras triangulares. Os muros com pontas eram apenas decorativos.

Já o centro da cidade era feito de mármore branco, marfim e platina. No por do sol, adquiria um brilho formidável que contribuía para o seu caráter simbólico. A Capital Continental tinha esse nome por ser a única cidade do continente a abrigar um dos Templos Maiores, onde os sacerdotes da Doutrina Magma se reuníam para falar com os Deuses.

Naquela tarde particularmente abafada, uma multidão de turistas se aglomerava na fronteira que separava a capital do resto do país. Era um feriado sagrado, a Semana do Sol, e a entrada e saída de pessoas era um ponto importante. Ninguém que fosse atrapalhar a festa deveria entrar, mas era necessário dar livre passagem aos que quisessem simplesmente louvar aos deuses, sem causar problema nenhum.

Com calor e desgosto, Oliver encarava a fila que se afunilava em direção à blitz dos soldados do governo. Eles revistavam as pessoas, em busca de ítens suspeitos (ou preciosos) e faziam questão de intimidar qualquer um que não lhes parecesse agradável.

"É TERMINANTEMENTE PROIBIDO USAR MAGIAS DE NÍVEL 5 DENTRO DA CAPITAL" dizia uma placa, marcada com os brasões da igreja e do governo.

"Que ótimo" - pensou Oliver, com sarcasmo, enquanto os homens de armadura revistavam a bolsa de uma mulher. - "Restrições".

Ele reclamava, reclamava, mas sabia que seria assim. Aquela não era a única proibição. Outras placas evidenciavam coisas que não se poderia fazer. Havia uma, por exemplo, avisando do bloqueio de determinadas ruas e passarelas ao longo da cidade. Tudo atrapalharia, caso Oliver não estivesse disposto a quebrar normas. Pretendia ser visto apenas duas vezes na cidade: ao entrar e ao sair. O resto, planejou, não seria visto por ninguém além dele.

Era, pelo menos, a sua idéia inicial.